O ministro Augusto Heleno enviou um documento à Polícia Federal em que contradiz o presidente sobre a troca de nomes da segurança pessoal de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. O documento faz parte do inquérito no STF que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal.
A suposta tentativa de interferência política do presidente Bolsonaro nas investigações da Polícia Federal foi mencionada pela primeira vez por Sergio Moro no dia em que ele pediu demissão do Ministério da Justiça, em 24 de abril.
No dia 5 de maio, o conteúdo do depoimento de Moro à Polícia Federal em Curitiba se tornou conhecido e trouxe um componente extra: a reunião ministerial do dia 22 de abril. Segundo Moro, na reunião estaria uma das provas de que Bolsonaro queria trocar o comando da superintendência da Polícia Federal no Rio para interferir em investigações.
O presidente passou a se defender em entrevistas. No dia 13 de maio, Bolsonaro afirmou que tratou na reunião sobre a segurança de sua família e amigos, e não de trocas na superintendência da Polícia Federal no Rio como apontou o ex-ministro Sergio Moro.
“Eu não falei o nome dele no vídeo. Não existe a palavra Sergio Moro. Eu cobrei a minha segurança pessoal no Rio de Janeiro. A PF não faz a minha segurança pessoal, quem faz é o GSI”, disse Bolsonaro. GSI é o Gabinete de Segurança Institucional, comandando pelo ministro Augusto Heleno.
Dois dias depois, antes da divulgação do vídeo da reunião, o presidente reforçou essa versão, negando, mais uma vez, tentativa de interferência na PF: “Eu espero que a fita se torne pública para que a análise correta venha a ser feita. A interferência não é nesse contexto da inteligência não, é na segurança familiar. É bem claro, segurança familiar. Eu não toco PF e nem Polícia Federal na palavra segurança”.
Uma semana depois, em 22 de maio, o ministro Celso de Mello autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial citada por Moro.
”Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar f... a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final!”, falou.
A versão do presidente era de que ele tinha tentado fazer uma troca na segurança pessoal no Rio de Janeiro e não estava conseguido. Essa versão de Bolsonaro foi desmentida por um de seus auxiliares mais próximos.
O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela segurança presidencial, disse, em um ofício enviado à PF, que não houve “óbices” ou “embaraços” para fazer substituições e confirmou que foram feitas três trocas na equipe responsável pela segurança do presidente no Rio: uma em 2019, assim que Bolsonaro assumiu, e duas agora em março - mês anterior ao da reunião ministerial do dia 22 de abril, como já havia revelado o Jornal Nacional.
Mas, logo após a reunião, o que houve foi a troca do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que motivou a saída de Moro do Ministério da Justiça. Em seguida, foi trocado também o superintendente da PF no Rio.
Por decisão do ministro Celso de Mello, a PF tem até o início de julho para concluir as investigações, que, segundo a Polícia Federal, estão avançadas. Ainda falta marcar o depoimento do presidente. A PF quer que isso ocorra nos próximos dias. Mas é consenso que o depoimento só deve ser marcado após a investigação reunir todas as informações já apuradas, para confrontar dados e ouvir as explicações do presidente.