O prefeito de Itajaí, no Vale, Volnei Morastoni (MDB), afirmou na noite desta segunda-feira (3), que existe a possibilidade de a cidade adotar a aplicação de ozônio por via retal como medida de tratamento contra a Covid-19 em pacientes confirmados e com sintomas. A técnica, entretanto, não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e foi rechaçada por especialistas consultados pelo G1.
"É uma aplicação simples, rápida, de dois ou três minutinhos por dia, provavelmente vai ser uma aplicação via retal. É uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima de dois minutos com cateter fino, e isso dá um resultado excelente", disse Morastoni, que também é médico pediatra e homeopata.
As declarações do prefeito foram feitas durante uma transmissão ao vivo realizada em uma rede social oficial da administração municipal.
A Prefeitura de Itajai já tentou
prevenir a Covid com homeopatia. Os casos começaram asubir.
"A pessoa tem que fazer durante 10 dias seguidos, são 10 sessões de ozônio, e isso ajuda muitíssimo, provavelmente, os casos de coronavírus positivo", completou Morastoni.
A ozonioterapia é uma técnica antiga, porém, ainda considerada experimental pelo Conselho Federal de Medicina. Ela consiste no uso de uma mistura de ozônio e oxigênio para aumentar o fluxo sanguíneo. Não há evidências científicas que permitam seu uso médico no Brasil, de acordo com o conselho.
Ao G1, a infectologista Sabrina Sabino disse que não existe nada no âmbito científico que aponte para o uso da ozonioterapia no tratamento da Covid-19.
"Infelizmente não há evidências que o ozônio vá tratar ou prevenir a Covid-19", afirmou Sabino, que é professora de Furb (Universidade Regional de Blumenau) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Não existe embasamento científico que sustente esta prática. Precisamos parar com achismos, precisamos de apoio dos governantes para que a ciência possa ser nossa aliada. Estamos diariamente buscando estudos, buscando pesquisas pra o tratamento da Covid-19. Então peço para que nos deixe trabalhar", disse a especialista.
O G1 também consultou o médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, Alexandre Naime Barbosa sobre a técnica defendida pelo prefeito.
"Todos esses tratamentos alternativos são uma cortina de fumaça para que se tire a atenção do que realmente importa que é o controle com as medidas que tem eficácia reconhecida na ciência, que é o isolamento social na medida do possível, uso de máscara, distanciamento social, lavagem das mãos e testagem em massa com o melhor teste que é o PCR. Então, os políticos e médicos que ficam publicizando tratamentos sem eficácia, eles querem manchete, eles querem holofote na mídia, e desviar a atenção do que realmente tem eficácia contra a Covid-19, que infelizmente acaba tendo efeito colateral de serem impopulares, as que realmente funcionam", afirmou Barbosa.
"A proposta de aplicação de ozônio via retal se soma a uma série de tratamentos sem comprovação científica contra a Covid-19, assim como a hidroxicloroquina, a ivermectina, a nitazoxanida e tantas outras propostas que beiram o obscurantismo. O verdadeiro charlatanismo, curandeirismo, por parte de muitos políticos e até, vezes por médicos, às vezes por ingenuidade, às vezes por má fé, acabam sugerindo, embarcando, publicizando, medidas de tratamento que não tem eficácia na ciência", completou.
Segundo o prefeito de Itajaí, trata-se de uma "nova etapa" de ação de combate ao vírus na cidade, que inclui a ingestão de cânfora, tanto de maneira preventiva quanto para os casos já positivados. Morastoni cita também a continuidade do tratamento com o medicamento antiparasitário Invermectina e do antibiótico Azitromicina.
A ivermectina, medicamento antiparasitário, também não tem comprovação científica de eficiência contra a Covid-19, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Morastoni disse ainda que a prefeitura se inscreveu no Conselho Nacional de Pesquisa e Ética (Conep), ligado ao Ministério da Saúde, com o objetivo de conseguir autorização para ter um ambulatório de ozônio, com aparelhos e kits necessários para a aplicação, "adotando o protocolo nacional de pesquisa", segundo ele.
O Conselho Regional de Medicina (CRM-SC) também reforçou a falta de estudos que comprovem a eficiência do uso do ozônio contra doenças.
FONTE: G1