Especialista em fiscalização e inspeção de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Felipe Augusto Gomes Sales disse, hoje (19), que farmacêuticas e transportadoras precisam investir mais recursos em tecnologia para garantir que os remédios cheguem a todo o território brasileiro sem perder a eficácia.
“Hoje, isto não ocorre em todas as partes do país”, afirmou Sales durante um
webinário sobre boas práticas de distribuição e armazenamento de medicamentos.
Realizado pela Anvisa, o evento foi aberto à participação de representantes dos
órgãos de vigilância sanitária estaduais e municipais, bem como de funcionários
de produtores de remédios.
Para o inspetor sanitário, a Resolução de Diretoria Colegiada nº 430 (RDC 430),
em vigor desde o mês passado, veio “preencher um vazio no marco regulatório” do
setor, estabelecendo requisitos de boas práticas de transporte, distribuição e
armazenagem de remédios, de maneira que estas etapas sejam tratadas com o mesmo
rigor usado para fiscalizar a produção de medicamentos. O que, segundo Sales,
não acontecia.
“Trabalhei na área farmacêutica e inspecionei distribuidoras Brasil afora. A
gente observa que, saindo dos grandes centros, há um relaxamento [quanto ao]
controle de temperatura, das especificações de produtos”, acrescentou Sales ao
garantir já ter se deparado com produtos prontos para o consumo armazenados de
forma inadequada.
“Já vi a armazenagem feita a 42°C, em condições inadequadas. Inclusive em
grandes distribuidoras”, comentou o inspetor sanitário ao elencar três desafios
para toda a cadeia logística.
“É preciso qualificar o transporte de medicamentos. Mapear as rotas de
transporte e controlar e monitorar a temperatura e a umidade durante todo o
trajeto a fim de evitar que estes produtos sejam entregues ao consumidor fora
de suas especificações”, disse Sales, destacando a questão do transporte aéreo.
“Temos um problema sério com a questão do avião, que é muito usado, mas sobre o
qual não há uma regulamentação específica. Há um altíssimo risco de perda da
qualidade do produto quando ele é colocado em uma condição aberta, por muito
tempo”, comentou Sales, admitindo a necessidade de uma regulamentação
específica para o transporte de cargas de medicamentos.
“Sabemos das dimensões do nosso país, da complexidade de se distribuir
medicamentos ou qualquer produto, e cada elo [da cadeia logística] tem sua
responsabilidade”, acrescentou o inspetor, assinalando que a observância das
boas práticas é fundamental para a indústria farmacêutica.
“Não adianta fabricar algo com alto padrão de qualidade, garantir que o insumo
[matéria-prima] utilizado venha de fornecedores qualificados e, após esta
etapa, perder o controle”, concluiu Sales.
A Agência Brasil tentou ouvir a Associação da Indústria Farmacêutica de
Pesquisa (Interfarma), entidade que representa o setor produtivo no Brasil, mas
ainda não obteve resposta. Consultada sobre as declarações do inspetor
sanitário, a Anvisa também ainda não se pronunciou.