O Ministério da Educação (MEC)
admitiu em documento ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que a verba
destinada ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 é insuficiente para
aplicar a prova em todos os participantes. Também vai faltar dinheiro para
pagar bolsas de 92 mil cientistas, incluindo pesquisadores da covid-19, médicos
residentes e para livros didáticos. Em ofício obtido pelo Estadão, a pasta
pede dinheiro para "viabilizar projetos" e fala em impactos
pedagógicos "imensos".
O documento encaminhado anteontem pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, à
Economia pede o desbloqueio de R$ 2,7 bilhões e a suplementação de R$ 2,6
bilhões, sob o risco de deixar sem verba "diversas demandas essenciais à
área da educação", entre elas a realização do Enem. O MEC foi a pasta mais
atingida pelo bloqueio de verbas realizado em abril pelo presidente Jair
Bolsonaro.
Para aplicar o Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), órgão ligado ao MEC e responsável pelo exame, prevê gastar R$ 794
milhões este ano. Com R$ 226,7 milhões bloqueados, o orçamento total do Inep é
de R$ 1,183 bilhão, mas seria necessário quase o dobro do dinheiro para atender
às necessidades da autarquia, que também realiza outras avaliações
educacionais.
"Especificamente com relação ao Enem, a insuficiência orçamentária resultaria
na inexecução dos serviços, tendo em vista a quantidade de participantes
prevista para 2021", aponta o ofício. O Inep estima ter 6 milhões de
alunos inscritos nesta edição do Enem, além de 100 mil estudantes na aplicação
da prova digital. "O montante disponibilizado não atenderia a totalidade
de aplicações/participantes previstas, o que de fato poderia trazer prejuízos
às aplicações do Enem e ao Inep", afirma o MEC.
No mesmo documento, o MEC cita ainda os prejuízos à pesquisa brasileira, com
cortes na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
fundação que fomenta a pós-graduação. Segundo a pasta, todos os 92.377
bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado "não poderão ser
pagos" a partir de novembro. "Entre o total de bolsas, cabe destacar
a interrupção do pagamento de 795 bolsistas vinculados a 109 projetos de
combate à covid-19, com o envolvimento de 1.280 pesquisadores", destaca o
ofício. Além do desbloqueio de verbas, a Capes precisa de R$ 121,5 milhões para
garantir pagamento aos bolsistas.
Faltam ainda recursos para o programa de residência médica. O dinheiro recebido
até agora será suficiente para pagamento das bolsas até setembro e o MEC já
prevê reduzir o programa. Residentes têm atuado diretamente no combate à
pandemia em hospitais. "O valor atual programado para a ação orçamentária
contempla recursos suficientes para a manutenção de apenas 10 800 bolsas de
residência, de um total de 13.883." A contratação de supervisores e
tutores para o programa Mais Médicos também fica comprometida.
Sem assistência estudantil
Nas universidades federais, o ofício admite que a partir de setembro não haverá
dinheiro para bolsas de permanência no ensino superior. Os recursos são
destinados a estudantes de baixa renda. E o "funcionamento geral" das
universidades federais também pode ficar comprometido, segundo o MEC. As
instituições falam em paralisar atividades em julho.
Livros e alfabetização
Até programas considerados prioritários para a gestão Jair Bolsonaro sofrem
impactos dos cortes. Na alfabetização, a previsão é de atender 16% a menos dos
estudantes com cortes na formação de professores para essa área. E os livros
didáticos podem não ser entregues em 2021 porque um terço da verba está
comprometido. O investimento mínimo é de R$ 3 bilhões, mesmo valor do
"orçamento secreto" de Bolsonaro, esquema revelado pelo Estadão.
Procurado, o MEC não se manifestou. Já a Economia disse que o bloqueio visa ao
atendimento de despesas obrigatórias. "Caso novas projeções de despesas obrigatórias
indiquem queda do valor projetado dessas despesas, os valores bloqueados
poderão ser reavaliados", informou a pasta. "Até esta data não existe
previsão para eventual desbloqueio."
FONTE: MÍDIAMAX