Condenado no âmbito do esquema do mensalão, presidente do PL considerou uma "esculhambação total" imagens dele divulgadas em São Paulo
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro decidiu reforçar a artilharia contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as urnas eletrônicas, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, tem adotado discretamente nos bastidores uma política de boa vizinhança com integrantes do Judiciário. No último dia 16, Valdemar participou de uma reunião reservada com dois dos maiores algozes de Bolsonaro na Praça dos Três Poderes — o presidente do TSE, Edson Fachin, e o vice-presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, que cuida de inquéritos que investigam o clã do chefe do Executivo. O encontro foi marcado a pedido de Fachin para tratar do combate à desinformação e os preparativos do próximo pleito, mas também serviu para que Valdemar fizesse uma espécie de desabafo para os magistrados.
“Nós vamos enfrentar muita dificuldade. Aquela campanha antiga já começou, e tem o problema da internet. Esta semana, pegamos em São Paulo, na zona sul … Antônio Carlos (ex-ministro dos Transportes Antônio Carlos Rodrigues, um dos principais conselheiros de Valdemar) me mandou umas fotos… ‘PL partido Ladrão’, a cara do Bolsonaro e a minha cara. E ‘Valdemar bandido’, uma esculhambação total…”, reclamou Valdemar.
“E eu falei com o Antônio Carlos, ‘Antônio Carlos, temos de pegar quem tá fazendo isso aí’. Porque lá em São Paulo, temos um grupo fanático do PT e temos o grupo fanático do Bolsonaro. Vai ser uma eleição muito difícil”, acrescentou.
Prócere do Centrão, o grupo de partidos fisiológicos que dá as cartas no Congresso, Valdemar foi apontado como um dos principais artífices do esquema de corrupção do PT, a quem se aliou para fazer do amigo José Alencar o vice de Lula em 2002. Assumiu sozinho sua participação no esquema, sem delatar os colegas. Fez o oposto do seu então rival, deputado Roberto Jefferson (PTB), que, quando acusado de corrupção, deu uma entrevista delatando o esquema e acusando Lula de comandar a compra de votos na Câmara.
Valdemar renunciou ao mandato de deputado federal em dezembro de 2013, a poucos dias de sua prisão, para evitar a cassação –antes, já havia renunciado em 2005. Foi condenado a quase 8 anos de detenção no processo do mensalão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Saiu da cadeia em 2016 e submergiu.
O presidente nacional do PL se reuniu com os magistrados do TSE e do STF seis anos depois de ter deixado a cadeia. Nesse período, apresentou bom comportamento na penitenciária e cumpriu os requisitos básicos para conseguir não apenas o direito a indultos, como também a redução da pena. Na prisão, o mensaleiro concluiu o curso de “Direito de Família” e trabalhou por 36 dias em um restaurante.
A discrição, a lealdade ao se manter calado em meio a acusações e o cumprimento de acordos são características quase unânimes para descrever Valdemar no universo político. Pelo visto, no Judiciário a impressão é parecida: no mesmo encontro em que reclamou da “esculhambação” de ser acusado de “bandido”, Valdemar foi chamado por Alexandre de Moraes de “grande parceiro da Justiça Eleitoral”, por ter ajudado a derrubar, nos bastidores, a PEC do Voto Impresso. Nada como um dia depois do outro.
FONTE: VEJA