Um caso que chocou não só a população campo-grandense, mas também um delegado com 17 anos de experiência, na época dos fatos, Paulo Sérgio Lauretto - que comandou as investigações do caso Kauan Andrade: estuprado, morto e esquartejado aos 9 anos, em 2017.
Do sumiço de Kauan até a prisão do acusado, em julho do mesmo ano, se passaram 26 dias de agonia e buscas pelo menino que nunca foi encontrado. Para o delegado Paulo Lauretto, quando aconteceu a prisão do professor Deivid Almeida Lopes, no dia 21 de julho, tinha-se a expectativa do desfecho final da história, “Até então não tínhamos nenhuma informação que levasse ao óbito do Kauan, ele era ainda tido como desaparecido. Havia suspeita”, disse Lauretto.
“Imaginávamos que conseguiríamos elucidar por completo tudo com a prisão. Havia muita expectativa”, disse o delegado que hoje está aposentado depois de 22 anos de carreira. O caso macabro e cruel contra Kauan foi um dos que mais consumiu física e emocionalmente o delegado.
O delegado conta que foi um dos casos mais exaustivos, “mergulhamos nesse caso de abandono que essa criança vivia”, disse ele. Lauretto ainda esclarece que a prisão de Deivid aconteceu pelos crimes de exploração sexual e corrupção de menores, e não pela morte de Kauan, por isso, a prisão tinha gerado tamanha expectativa já que com ela conseguiram ter o desfecho final da história.
Mas, não foi o que aconteceu, já que o professor negava todos os crimes, inclusive, o assassinato de Kauan. “Para nós, ele (Deivid) sempre foi uma incógnita, nunca demonstrou emoção nenhuma”, disse Lauretto que classificou o professor como uma pessoa fria e calculista em tudo que dizia em depoimento.
Só após um dos adolescentes - vítima também do professor - contar o que havia ocorrido naquele fatídico dia 25 de junho de 2017, é que Deivid acabou confessando o crime. Mas, o corpo de Kauan ainda estava desaparecido.
Frustração por não encontrar Kauan
“Minha maior frustração foi não ter entregue o corpo (Kauan) para mãe poder sepultar e ter paz de espírito”, disse Lauretto. O delegado ainda revelou que a alguns anos entrou em contato com a mãe do garoto e que ela teria dito a ele que a sensação que ela tinha era de que Kauan entraria a qualquer momento pela porta de casa, já que não conseguiu enterrar o filho.
Na época do crime, buscas foram feitas à beira do Córrego Anhanduí por vários dias na tentativa de encontrar o corpo, que teria sido esquartejado com um facão, colocado em sacos pretos e jogados no córrego. Cães farejadores foram usados nas buscas, mas Kauan nunca foi encontrado.
Lauretto ainda lembra do grau de vulnerabilidade em que a criança vivia, há que quando foi até a casa da mãe para buscar um objeto que pudesse ser usado na confrontação genética, o delegado descobriu que Kauan não tinha um objeto pessoal que fosse só dele, nem uma escova de dentes, um tênis, escova de cabelos.
O delegado ainda lembra que nunca havia chegado até a delegacia nenhuma denúncia de que a casa do professor era suspeita, já que havia uma grande movimentação de crianças e adolescentes. “Era um crime que poderia ter sido evitado, como disse na época”, fala Lauretto.
“Se tivesse tido denúncias sobre a casa do professor, Kauan poderia estar vivo”, finaliza Lauretto.
O professor que teria estuprado outros 10 adolescentes foi condenado a 64 anos, 11 meses e seis dias de prisão. Atualmente, Deivid está preso no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), no pavilhão dedicado a alojar presos por crimes sexuais.
FONTE: MÍDIAMAX