Ao entrar na quarta semana de
guerra, as forças russas voltaram a ser contidas na Ucrânia. Sem avanço no
terreno, a Rússia recorre a bombardeios a distância, que atingem cada vez mais
civis de forma indiscriminada. As cidades de Chernihiv, Kharkiv e Mariupol
foram devastadas nos últimos dias, deixando um número ainda incerto de vítimas
e dificultando a negociação de um cessar-fogo.
Com superioridade militar incontestável, a invasão russa era para ter rendido
ao presidente Vladimir Putin uma vitória fácil. Mas não foi o que aconteceu.
Serviços de inteligência de países ocidentais dizem que decisões estratégicas
desastrosas, contratempos logísticos confusos e a ferocidade da resistência da
Ucrânia fizeram as tropas russas empacarem nos últimos dias.
Baixas russas
Os EUA estimaram nesta quinta-feira, 17, de maneira conservadora, que 7 mil
militares russos já morreram em um mês de conflito, mais do que o número de
americanos mortos em 20 anos de guerra no Iraque e no Afeganistão. Analistas do
Pentágono dizem que uma taxa de 10% de baixas, incluindo mortos e feridos, para
uma unidade militar a torna incapaz de realizar tarefas de combate.
Com mais de 150 mil soldados russos envolvidos na guerra na Ucrânia, as baixas
russas chegaram perto desse nível - incluindo um número estimado de feridos
entre 14 mil e 21 mil soldados.
Os militares russos também perderam pelo menos três generais, segundo
autoridades ucranianas e da Otan. No Pentágono, dizem que um número alto e
crescente de mortos na guerra pode destruir a vontade de continuar lutando.
Oficiais militares americanos e europeus disseram ontem que já não têm tanta
certeza de que a Rússia terá forças para um assalto final a Kiev.
O cenário, segundo analistas americanos, está evidente em relatórios de
inteligência que altos funcionários do governo leem todos os dias: um documento
recente falava especificamente do baixo moral entre as tropas russas. As
autoridades dos EUA, que falaram sob condição de anonimato, alertam que as
estimativas são inexatas.
Os números são compilados de análises da mídia, informações dos ucranianos (que
tendem a aumentar o número de russos mortos, segundo eles, 13,5 mil), dados
divulgados pelos russos (que tendem a diminuir o número de baixas, que até
agora está 498, segundo eles). Os analistas americanos também se baseiam em
imagens de satélite e na leitura cuidadosa de vídeos de tanques e tropas russas
que estão sob fogo.
Oficiais militares e de inteligência americanos sabem, por exemplo, quantos
soldados geralmente estão em um tanque e podem inferir a partir disso o número
de baixas quando um veículo blindado é atingido por um míssil antitanque
Javelin.
Ataques
Ontem, os bombardeios russos voltaram a castigar as cidades ucranianas. Em
Chernihiv, pelo menos 53 corpos foram levados aos necrotérios da cidade entre
terça-feira e quarta-feira, vítimas de ataques aéreos russos, segundo disse
ontem o governador da região, Viacheslav Chaus.
Na cidade, um albergue foi bombardeado, matando mãe, pai e três filhos,
incluindo dois gêmeos de 3 anos. O Departamento de Estado dos EUA confirmou que
um americano foi morto em Chernihiv
Os arredores de Kharkiv também foram alvo de bombardeios pesados Pelo menos 21
pessoas foram mortas e 25 ficaram feridas pela artilharia russa, que destruiu
uma escola e um centro comunitário em Merefa, ao norte da cidade.
Negociações
Mesmo diante de bombardeios incessantes, um quarto dia consecutivo de conversas
entre negociadores russos e ucranianos ocorreu ontem por videoconferência. O
Kremlin, no entanto, declarou que um acordo ainda não foi alcançado.
"Nossa delegação está fazendo um esforço colossal", garantiu o
porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov. "Mas, infelizmente, não vemos
tanto zelo do lado ucraniano."
Moscou já havia admitido que estava perto de concordar com uma fórmula que
manteria a Ucrânia neutra, uma de suas exigências. O conselheiro presidencial
ucraniano, Mikhailo Podoliak, porém, afirmou ontem que as negociações são
complicadas. "As posições são diferentes. Para nós, as questões
fundamentais são invioláveis", disse. Segundo ele, a Ucrânia está disposta
a negociar o fim da guerra, mas não vai se render ou aceitar ultimatos russos.
(COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).
FONTE: MÍDIAMAX